Com a devida vénia e créditos ao autor,aqui se reproduz o interessante artigo
"As falácias ou os grandes equívocos do e-Learning"
António Fernandes Outubro de 2006 Publicação: E-Learning
Por e-Learning deve entender-se aprendizagem por meios electrónicos, logo, todos os processos de ensino/formação colocados em suportes tecnológico informáticos: CD-ROM, DVD, e-mail, Internet, PODCAST, telemóvel, etc. são passíveis de ser identificados com esta modalidade didáctico pedagógica mas, na verdade, devido à World Wide Web é quase sempre interpretado como Ensino a Distância.
Outro grande equívoco nasce com o próprio e-Learning e com os seus principais divulgadores, os engenheiros do MIT, da Stanford University e da Harvard University, quando no distante ano de 1995 disseram ao Mundo: “viva o e-Learning, morra o Presencial” e avançaram para as grandes empresas e organizações de importância nacional, como as forças armadas, com toda a auréola e prestigio que lhes era outorgada pelas universidades de onde eram oriundos.
Estes homens e mulheres espalharam a “boa nova” aos quatro ventos, mas os resultados foram muito diferentes do que era esperado, porque “nada” do que foi prometido se cumpriu: aprendizagem mais rápida de acordo com as exigências do nosso tempo, custos mais reduzidos, formação generalizada e célere, democratização do saber, fontes inesgotáveis de conhecimento, etc. Passaram os anos e os gestores de topo das organizações tiveram de mandar os seus “exércitos formativos” regressar aos meios convencionais de aprendizagem, porque as profecias não se tinham tornado realidade. Pedindo emprestado o conceito a Alvin Toffler, é o que eu chamo a 1º Vaga do e-Learning.
Os engenheiros de sistemas tinham gasto muitas horas do seu caro e precioso tempo a desenharem Plataformas de e-Learning, que era indispensável rentabilizar; por esse e outros factos nasceu o b-Learning, ou seja, um processo que eu costumo comparar aos primeiros garrafões de plástico dos anos 60: eram de vidro, mas tinham um plástico creme a imitar vime (invólucro), Depois, deixaram de ter vidro e, o invólucro, imitava apenas o vime e o formato cilíndrico, mas davam mau sabor aos produtos que continham.
Moral da história, o Plástico nos anos 60 era um produto saído das tecnologias de ponta, mas umbilicalmente agarrado aos artefactos do passado. Só quando se libertou do vidro, do desenho do vime creme e do plástico com cheiro intenso, é que foi possível evoluir para um suporte inodoro, de resina adequada ao produto a transportar e com um formato quadrado ou rectangular, capaz de ocupar menos espaço no transporte e nos locais de armazenamento. Para ocorrer esta evolução tão simples num garrafão de plástico, foram necessários 20 anos.
O b-Learning também está umbilicalmente agarrado aos modelos de formação do passado e procura manter o statu quo, principalmente nas universidades e nas empresas, sem ser capaz de fazer a ruptura com os modelos tradicionais e gerar novos paradigmas. Usa o professor e o formador naquilo que eles sabem fazer: dar aulas presenciais e depois exige-lhes que coloquem numa qualquer Plataforma de e-Learning os seus materiais, que mais não são do que versões digitalizadas das antigas sebentas, brochuras ou fotocópias.
Os alunos/formandos têm, através do citado processo, acesso mais rápido aos conteúdos, com melhor ou pior apresentação, desde documentos pdf a PowerPoints, mas não podem explorar o que há realmente de novo: a utilização integrada de imagens animadas, da voz, da música, de processos capazes de gerar emoções e de captar a atenção selectiva ou, mesmo, de simular as realidades e os contextos profissionais, onde seja possível aprender por tentativa e erro, por imitação, por observação ou, até mesmo, através de desempenhos simulados.
O b-Learning, tal como é produzido na maioria das escolas e empresas, cumpre a sua função como o fez o primeiro garrafão de plástico: é mais barato porque não há investimento na concepção de conteúdos desenhados com apoio da pedagogia e do multimédia; é mais barato porque não há investimento no professor/formador e este pode até ver diminuído em 50% ou mais o seu tempo lectivo, devido à redução do número de aulas; é mais barato porque a Plataforma de e-Learning é transformada num gestor documental e numa rede on-line de comunicação, dando ao aluno/formando algumas horas a mais para o estudo ou para o ócio e poupando papel ao guardarem digitalmente os conteúdos dos cursos, todavia, não cumpre uma das preocupações centrais do nosso tempo, para os quais a variável tempo assume poderes ditatoriais: aprender em menos tempo. Em suma, esta é a 2ª Vaga do e-Learning.
Como Alvin Toffler, defendo que a 3ª Vaga seja sinónimo de modernidade, de integração, de compatibilização, enfim, é neste âmbito que temos de criar um e-Learning e um b-Learning que correspondam aos actuais garrafões de plástico: leves, eficazes, a ocuparem menor espaço e a darem um suporte adequado e ajustado aos diferentes produtos que contêm.
As Tecnologias Distribuídas fazem chegar a informação ao aluno/formando em formatos muito próximos da realidade, onde vão ser aplicados, dando origem a um processo de ensino e aprendizagem centrado no professor/formador. Aqui, são claramente utilizáveis os modelos de aprendizagem estudados pelos Behavioristas: estímulo/resposta, associação e reforço, bem como a imitação, a tentativa e erro e a observação, tão claramente investigados pelo ensino programado e pelo ensino assistido por computador (CBT).
As Tecnologias Interactivas, se associadas aos Estilos de Aprendizagem, podem simular todas as realidades, permitindo que essa máquina fabulosa que é o computador possa recriar no espaço virtual tudo o que queiramos, desde a contabilidade de uma empresa, a um motor de gasolina com todas as suas peças em movimento ou, uma intervenção cirúrgica onde o rato pode ser um bisturi. Aqui, já estamos numa vertente mais cognitiva, onde o estudante é dono do seu percurso de aprendizagem. Dito de outro modo, embora existam Casos, PBL (Problem Based Learning), Jogos e Simulações desenhadas sob a orientação do professor/formador, na verdade, os caminhos alternativos, as estratégias e as soluções são inúmeras, o que faz com que esta modalidade esteja centrada naquele que aprende.
As Tecnologias Colaborativas dão a este modelo de e-Learning/b-Learning, de que o SAFEM-D (Sistema Aberto de Formação e Ensino a Distância) é um exemplo, o seu elo holístico e ecléctico, pois aproximam o acto de aprender com a equipa e com a realidade vivida nas organizações, bem como fecham o circuito do saber, do saber fazer e do saber estar/ser. Aqui, todo o processo de aprendizagem está centrado no grupo, nas suas sinergias e nas vantagens em se trabalhar de forma cooperativa, o que facilita o modo de como se podem alcançarem objectivos e aumentar a produtividade, devido a processos de empowerment.
A última das grandes ilusões do e-Learning nasceu, principalmente, nos países nórdicos. Simularam no virtual exactamente o “espaço” presencial, com salas, carteiras, projector e professor/formador, etc., onde em 3D recriam toda a ambiência de uma turma ou de uma acção de formação profissional. Gastaram nestas animações vastos recursos em Web Designer e Programação, que tiveram implicações financeiras totalmente incomportáveis, mesmo para países ricos.
São produtos multimédia de inegável valor estético e de investigação minuciosa, direi até, de grande magia para quem os concebe ou mesmo utiliza, mas o valor acrescentado que exibem fica-se pela curiosidade e atractivamente dos primeiros momentos de utilização. Depois, numa óptica de aprendizagem, constatamos que este modelo não é superior a outras experiências didáctico multimédia muito menos onerosas, apresentado até desvantagens numa utilização diária, pois as rotinas inerentes a este processo agem de um modo cansativo e desmotivador. Os pedagogos há muito que investigam e conhecem a eficácia destes produtos, o que não foi impeditivo de uma prestigiada organização internacional, ainda recentemente, ter atribuído o prémio de excelência a um Site de Higiene e Segurança criado nestes moldes.
Obviamente, estamos na infância do e-Learning e do b-Learning e, mais ainda, do m-Learning, mas já hoje é possível, depois de 10 anos de investigação, criar produtos educacionais para todas as idades e de formação profissional para todas as áreas, a custos atractivos mesmo no curto prazo, mas com uma eficácia jamais alcançada por todos os modelos presenciais, mesmo os de melhor escol, como os sustentados pelos Métodos Activos. Não podemos é usar receitas generalistas, temos de analisar caso a caso. Numas situações podemos utilizar o “feito à medida” (aqui a metáfora mais próxima é a da alta costura) e noutras o padronizado (seguindo a metáfora do pronto a vestir). Estas duas estratégias são faces da mesma moeda, que advêm da sua especificidade: do que as pessoas necessitam de aprender, da sua idade, das necessidades de treino, da sua função, do grau de abstracção que é necessário gerar, da modalidade pedagógica que devemos eleger, da natureza dos conteúdos e da necessidade de criar ou não simuladores.
Em suma, é errado desenhar uma sala para que o aluno se sinta identificado com o ambiente, quando o que ele necessita é, por exemplo, de aprender Biologia, para isso, temos de simular uma célula em que seja possível ver o funcionamento real e dinâmico dos seus organelos e da sua membrana. Se queremos ensinar acção comercial demonstramos boas e más vendas, podendo o formando, como actor, intervir directamente na simulação; se queremos que o cardiologista estude um ecocardiograma temos de lhe dar todas as possibilidades para ele manipular este exame como se estivesse num ecógrafo do hospital; se queremos ensinar mecânica automóvel temos de dar a possibilidade ao técnico de interagir com todas as peças do veículo, mesmo que seja virtualmente; se queremos que um estudante de medicina ou de enfermagem perceba como agem os agentes da quimioterapia, temos de criar um gif animado onde seja possível observar como estes actuam no DNA ou na membrana citoplasmática.
sexta-feira, dezembro 22, 2006
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